Conclusão

"A história do OAB demonstra que um planejamento estratégico para desenvolvimento de uma área de pesquisa no país pode ser muito efetivo se efetuado em equipe e com aspectos de cooperativismo e ética (Abrahão, Lélio Gama e Muniz Barreto)." - Rogério Godoy, 2010

O empenho de Muniz Barreto em realizar o sonho de seu mestre Domingos da Costa; o retorno ao Brasil de jovens doutores, como Ferraz Mello, Freitas Pacheco e Lício da Silva, muitos enviados ao exterior sob influência de Abrahão de Moraes; e a captura do próprio Abrahão, desses jovens retornados e de outros estudantes, como Germano Quast e Carlos Alberto Torres, pelo projeto astrofísico brasileiro foram alguns dos fatores determinantes para que, na segunda metade dos anos 1960, começassem os primeiros passos efetivos rumo ao Laboratório Nacional de Astrofísica. Nesse período, esses e outros personagens elaboraram e executaram um programa de escolha de sítio, aquisição e instalação de um telescópio de grande porte e formação de pessoal. Tudo isso era inédito e decerto implicou muita tentativa e erro, mas também implicou um grande desenvolvimento na pesquisa astronômica no Brasil.

Com a instalação do Observatório Astrofísico Brasileiro, depois transformado em LNA, as pesquisas em astronomia, que antes eram notadamente teóricas, passaram a ter um cunho mais observacional e ganharam um vulto muito maior em qualidade e quantidade. Os dados agora poderiam ser obtidos pelos nossos próprios pesquisadores. Vale lembrar também que, nesse período, implantou-se a estrutura da pós-graduação em astronomia e institucionalizou-se essa ciência no Brasil, sobretudo com a SAB e suas reuniões anuais entre outros eventos, tudo isso interligado, evidentemente. O OAB-LNA participou, e continua participando, ativamente tanto do processo de institucionalização quanto da formação de astrofísicos na área instrumental e observacional.

Ao longo de todo esse percurso, a cooperação nacional e internacional foi a base do intercâmbio científico e tecnológico tão necessário para o desenvolvimento de uma ciência nos dias de hoje. O LNA esteve à frente desse processo, confundindo-se com ele, já que se trata de uma instituição que tem como missão prover a infraestrutura observacional para a astronomia brasileira. Como vimos, essa infraestrutura inclui os mais diversos tipos e tamanhos de telescópios, que vão desde os de 60cm do OPD até os de 8m do Gemini, atendendo às mais variadas demandas de pesquisa astronômica observacional tanto na faixa óptica quanto na infravermelha.

Do projeto astrofísico brasileiro até o LNA foi um longo caminho na ciência e na política científica brasileira. O Observatório Astrofísico Brasileiro, antes vinculado ao ON/CNPq, ganhou autonomia no fim dos anos 1980, mudou de nome – Laboratório Nacional de Astrofísica – e tornou-se o primeiro laboratório nacional do país, institucionalizado como Unidade de Pesquisa do CNPq. Numa nova redefinição política, no início do novo milênio passou a ser uma Unidade de Pesquisa do MCT. Ao mesmo tempo que testemunhava a transformação de um país, a comunidade científica brasileira construiu essa e outras instituições, aprendeu a gerenciá-las, desenvolveu a astrofísica e inseriu o Brasil no parque tecnológico internacional. Em meio a tudo isso, o LNA chega à maturidade, e agora também se volta para a sociedade, devolvendo-lhe esse investimento nas mais variadas formas de iniciativas de educação e divulgação científica, como o OPD de Portas Abertas, o LNA em Dia e o Observatório no Telhado.

Evidentemente nem tudo são flores e, para finalizar este blog – o que não significa esgotar essa história –, há que se lembrar de alguns problemas a serem resolvidos nos mais diversos níveis. Internamente, por exemplo, destaca-se a escassez de recursos humanos do LNA, cujos funcionários têm que se desdobrar. Essa situação põe em risco as atividades atuais e também a execução das 42 metas estabelecidas pelo próprio LNA no Plano Diretor 2011-2015. Uma questão externa que ainda está indefinida, mas que pode afetar muito o LNA, é a entrada do Brasil no ESO, seja com que função lhe for atribuída. Além disso, há também um problema relativo ao próprio desenvolvimento da astronomia mundial, que é o grande volume de dados que vem sendo produzido e armazenado eletronicamente em inúmeros acervos ao redor do mundo. Lidar com isso de modo eficiente e integrado é um dos principais desafios da comunidade astronômica internacional, que já começou a se movimentar no sentido de um Observatório Virtual, de cuja importância o LNA está convencido. Nesse sentido, algumas instituições brasileiras já se mobilizaram e criaram o BraVO, a parte brasileira da IVOA (International Virtual Observatory Alliance), que pretende criar ferramentas e tecnologias para facilitar o acesso a esses dados.

Estes são alguns dos desafios que o LNA tem pela frente para, nos próximos anos, além de consolidar a posição já alcançada – e reconhecida nacional e internacionalmente – como instituição de ciência, tecnologia e prestação de serviços, seguir investindo no desenvolvimento instrumental e na socialização do conhecimento.

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